quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Romancismo

Depois de muitos anos a ler, a imaginar, a fantasiar, apercebi-me que tenho de deixar de me influenciar pelo que leio ou vejo e passar a viver a realidade. A cada livro que leio há sempre uma intriga romântica. Seja ela picante, soft, ou apenas uma espécie de fairytale.
Sei que muitos dos livros que já me passaram pela mão foram pura ficção, não tenho dúvidas, mas quando os livros nos puxam para a intimidade do autor as coisas mudam.
Encontro-me a ler "Viagens na minha terra" de Almeida Garrett. Não é o meu livro favorito, tenho a dizer, mas ao longo dele, e pela linguagem que o próprio usa, sinto que aquele livro não é apenas um meio de transporte para a cabeça imaginára de Garrett, mas sim o portal aberto para a mente critica e realística do mesmo.
As descrições que faz não são cheias de floreados, mas sim agulhas penetrantes na triste realidade. É comum ao longo do livro as criticas ao Governo, à ganancia da sociedade e como esta é capaz de destruir cultura e profanar relíquias só para obter ganho. Algo que ainda se aplica aos dias de hoje.
Mas creio que o cerne da questão em torno do livro é a história que decorre no vale de Santarém. Vale onde foi palco uma grande e dolorosa história de amor. Mas esta não é uma história qualquer, não tem final feliz, nem crianças sorridentes. Esta é a história que prova que o amor, e os males que dele advêm, são capazes de matar. Efetivamente. Algo muito mais interessante do que os habituais fairytales.
São livros como estes que mostram a realidade aplicável a todas as eras. Nada de Nicholas Sparks.

Algumas das minhas citações favoritas:

"Grande coisa é a distância! 
E dizem que saudades que matam! Saudades dão vida; São a salvação de muita coisa que, em seu pleno gozo e posse pacífica, pareceria de inaniçao ou morreria da opressora moléstia da saciedade"


"De tanto não somos capazes nós.
E por isso admiramos tanto.
E perdoamos tanto.
E esquecemos tanto.
Mas amar tanto, não sabemos: verdade, verdade...
Amamos melhor; sim, isso sim: tanto não."


"O homem - não o homem que Deus fez, mas o homem que a sociedade tem contrafeito, apertando e forçando em seus moldes de ferro aquela pasta de lima que no paraíso terreal se afeiçoara à imagem da divindade - o homem, assim aleijado como nós o conhecemos, é o animal mais absurdo, o mais disparatado e incongruente que habita na Terra"

"O coração humano é como o estômago humano, não pode estar vazio, precisa de alimento sempre: São e generoso só as afeiçoes lho podem dar; o ódio, a inveja e toda a outra paixão má é estímulo que só irrita mas não sustenta" 


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